domingo, 9 de agosto de 2015

LEMBRANÇAS DO DIA DO PAIS


Desde os três anos de idade eu não sei o que é comemorar o dia dos pais ao lado de um pai. As poucas lembranças que tenho de meu pai ainda vivo, as mais marcantes são dele no hospital, quando reuniu todos os filhos um dia antes de falecer, no caixão no dia de seu velório e após a nossa vinda de Macéio-AL para a cidade de Feira de Santana-BA, quando ele aparecia sempre sereno em meus sonhos.
Eu sentia saudades, brincava brincava e depois minha mãe me encontrava escondida no canto do quarto chorando. E quando me perguntava o motivo, eu dizia que era saudades de meu pai. Volta e meia eu dizia que sentia dores no coração, minha mãe chegou a me levar no médico preocupada, e disso eu me lembro muito bem, que comecei a chorar com medo, dizendo que o médico me mataria, assim como matou meu pai, que n minha concepção também tinha morrido de doença do coração.
Fiz exames e não foi constatado nada, ou melhor foi constatado que a dor que sentia era simplesmente uma forma de chamar atenção para o vazio que tinha no peito.
E assim o tempo foi passando, fui me acostumando com a saudade e me contentando com as vagas lembranças que tinha na memória. Entrei na escola e sempre no dia dos pais, todos os anos, enquanto meus coleguinhas faziam desenhos simbolizando o pai, eu desenhava minha mãe, que representava as duas funções de pai e mãe ao mesmo tempo. Lembro que nessa época, para o presente lembrança de dia dos pais a professora dizia: "Tem que mostrar a mamãe esse bilhete, porque é surpresa para o presente do papai", e essa surpresa era sempre direcionada a homens claro, presentes do tipo cueca, um lenço, uma gravata ou algo assim, e nesses momentos, eu ficava confusa, me sentia diferente.
Lembro até de minha professora, uma das preferidas, a qual se chamava Adna, que me levou no centro da cidade para comprar o presente de dia dos pais para minha mãe, me ajudando a escolher um lindo arranjo de flores.
E assim o tempo foi passando, fui crescendo a saudade já não era tão sentida. Meu irmão mais velho Gilmar Júlio foi se encaixando na tarefa de homem da casa, do pai protetor e ciumento quando arranjava algum paquera, aquele que me ouviu quando no meu primeiro porre eu chorava e dizia "Eu Te Amo", aquele que fez o papel de pai nos meus quinze anos, e depois quando fui pedida em namoro pela primeira e última vez, afinal os tempos mudaram e não se pede mais a mão de ninguém para namorar. Aquele que entrou comigo na igreja quando casei, e que chorava aos prantos, porque no fundo tinha a certeza que eu não seria feliz com a escolha feita.
Passaram se os anos, veio o nascimento de minha filha Vitória, e eu lembrei e senti a falta de meu pai. Pela minha má escolha no casamento, em depositar minha confiança em alguém que não merecia e por não ouvir os conselhos de minha mãe, eu paguei caro, e graças a Deus veio a separação. Nesse momento, eu voltei a sentir a falta de um pai presente, cheguei a dizer que se meu pai tivesse vivo não teria passado por tudo aquilo, e aí foi a vez de meu irmão mais novo, Glinio Góes aparecer na cena na tarefa de um bom pai, tentando me dar o amparo e a orientação necessária.
O tempo passou, cresci e amadureci, e hoje nesse dia dedicado aos pais, vejo várias homenagens a eles e aí mais uma vez, me vem as poucas recordações que a memória permitiu guardar, de uma criança que conviveu apenas três anos de sua vida ao lado do pai.
Acredito que esse é um dia para repensar no verdadeiro valor e no papel de um pai na vida de  seu filho. Não convivi com o meu, porque a saúde dele, ou o destino talvez não permitiram, mas mesmo assim levarei por toda minha vida as melhores lembranças, as melhores histórias de um homem íntegro, narradas por aqueles que conviveram mais tempo que eu, histórias que me fazem saber que eu tive um pai, um referencial de homem e exemplo de verdadeiro herói.
Saudades eternas do meu querido pai, João de Araújo Góes!!!

Por Carina Góes

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